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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27319: Os nossos enfermeiros (20): os furriéis milicianos enfermeiros tiravam a especialidade em Lisboa, os 1ºs cabos auxiliares de enfermeiro e os soldados maqueiros, em Coimba (Manuel Amaro / José Teixeira / António Carvalho)


Imagem do sítio oficial da atual ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (reproduzida com a devida vénia...). 

Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). 

É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. 

"O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."

No passado, nos 60/70, os camaradas furriéis enfermeiros, membros da Tabanca Grande, passaram por aqui, o antigo quartel de Campo de Ourique: o Manuel Amaro, o António Carvalho, o Adriano Moreira, o Manuel Barros Castro, o Manuel Figuinhas, o falecido José Eduardo Oliveira (Jero), etc. , são alguns nomes de grão-tabanqueiros, que me vêm à memória (**)...



1. Um dúvida do nosso editor LG: a formação (instrução de especialidade) dos nossos furriéis enfermeiros, 1ºs cabos auxiliares de enfermeiros, e soldados maqueiros (ou de primeiros socorros) era só feita no RSS (Regimento do Serviço de Saúde, criado em 1965), em  Coimbra, ou também nos hospitais militares de Lisboa, Coimbra e Porto ?

Isto vem a propósito da nota de leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, que foi 1º cabo aux enf, 2ª / BART 6521/72 (Có, 1972/74) e  que fez a especialidade no RSS de Coimba, de janeiro a maio de 1972, e que depois "estagiou" no serviço de cirurgia plástica do HMP, à Estrela, em Lisboa. Já foram produzidos alguns comentários que muito agradecemos (*):


(i) Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 28922, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71]


Sobre os Cursos dos Enfermeiros militares, eu tive o "azar" de fazer os dois cursos. O de auxiliar no RSS (Regimento do Serviço de Saúde), em Coimbra, no verão de 1967 (onde fui camarada do Zé Teixeira).

 Fiz depois o estágio no Hospital da Estrela, em Lisboa (Serviço de Neurocirurgia).

Andei, entretanto, um ano a "marcar passo" entre Tavira e Évora, em conflito com o exército. Como eu tinha razão, em julho de 1968 iniciei o Curso de Sargento Enfermeiro, em Lisboa, no Hospital da Estrela.

Sobre a matéria dos cursos não tenho documentos mas foi suficiente para o que nos era exigido na Guiné.

Mais, cada Batalhão de Infantaria tinha, ou deveria ter, quatro sargentos enfermeiros (um por companhia), nove cabos auxiliares de enfermeiro (três por companhia operacional), e, creio que quatro maqueiros (na CCS).

(ii) José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" ( Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70)


O RSS. em Coimbra não era assim tão mau, no que respeita à alimentação no tempo em que por lá andei em 1967. 

No que respeita a instrução para enfermeiro, lamentavelmente era assim, ou pior.

Um pelotão com mais de quarenta homens em que 50% vinham do CSM por chumbo forçado dado o excesso do ano anterior em que por necessidade chamaram para o CSM mancebos com o 2º ano. Descontentes e ressabiados, encontraram pela frente um médico que praticamente nunca apareceu no pelotão, um cabo RD enfermeiro, que era bom rapaz e mais nada, dava anatomia do corpo humano a gente que sabia mais que ele. 

Havia gente com o liceu completo, com o curso comercial, com o curso industrial e até professores primários. Um outro cabo RD para a instrução militar, que era amigo e nos deixava sempre à vontade. Os raides eram fantásticos, pois quando nos mandava voltar à esquerda, voltávamos à direita para irmos ver as garotas do liceu; quando nos mandava correr, os da frente corriam mesmo e os detrás faziam que corriam e.  quando ele resmungava, os detrás começavam a correr e os da frente paravam. 

Como as coisas não corriam bem colocaram lá um sargento já velho que tinha vindo de África, mas nada melhorou. Entretanto o cabo RD enfermeiro foi promovido e desapareceu. O sargento vindo da tropa macaca sabia ainda menos: " uma síndrome era um conjunto de sintomas e um sintoma era um conjunto de síndromes", assim se explicava o homem.

O meu Estágio foi no HMP - Porto numa enfermaria de medicina interna, onde havia um 1º sargento que cumpria rigorosamente o seu horário e não incomodava ninguém. Os doentes até nem eram graves. O restante pessoal eram cabos enfermeiros do contingente geral e havia dois cabos milicianos, que aguardavam a convocação para África, que não se incomodaram comigo. Dávamo-nos todos muito bem. 

Sei que aprendi a dar injeções e praticamente mais nada. Acompanhava os médicos na visita aos doentes de medicina, e apenas assisti a uma operação em ortopedia, feita no posto de serviço da enfermaria 8 (ortopedia). Não havia formação específica para estagiários. Andei por lá, cerca de dois meses e fui dado como pronto.

De notar que os cabos enfermeiros com destino aos serviços hospitalares fizeram o mesmo curso que eu, bem como os maqueiros. Os destinados a ser enfermeiros hospitalares, creio que tinham mais um mês de estágio e os maqueiros não os vi em estágio.

A verdadeira aprendizagem foi no terreno.

(iii) António Carvalho (ou "Carvalho de Mampatá"), ex-fur mil enf, CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)
 

No que concerne aos cabos milicianos saídos da recruta, eles tiravam a especialidade unicamente em instalações anexas à Basílica da Estrela em Lisboa, posteriormente estagiavam durante seis meses num dos hospitais das diferentes regiões militares. Isto acontecia nos anos setenta.


2. Comentário do editor LG:

Pegando na História da Unidade do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), constata-se que tinha capelão, mas não tinha médico quando chegou ao CTIG em 28/9/72 (o comando e a CCS) (com regresso a 27/9/1974).
  • a CCS evava um furriel enfermeiro,  dois 1ºs cabos aux enf, e dois sold maqueiros;
  • a 1ª C/BCAÇ 4612/71 levava um fur mil enf, dois 1ºs cabos aux enf;
  • a 2ª Companhia  não tinha, originalmente, nem fur enf nem 1ºs cabos aux enf.
  • a 3ª tinha um fur enf, e um 1º cabo aux enf.

Este batalhão vinha, pois,  desfalcado de pessoal sanitário. Pelos complementos e recomplementos, qwue constam da história da unidade, vê-se que o pessoal de saúde teria maior taxa de turnover ou rotação... ou então havia já, na metróp0ole, escassez deste pessoal... 

Um batalhão, a que eu estive adido (de julho de 1969 a maio ou junho de 1970), o BCaç 2852 (Bambadinca, 1968/70), parecia ter o quadro orgânico completo: 

  •  a  CCS tinha 3 médicos (mas eu só conheci um; também não tinha capelão);
  •  dispunha de um fur enf + um 1º cabo aux enf +  2 sold maqueiros (e ainda  um 1º cabo de análise e depósito de águas);
  • das companhias de quadrícula, a CCAÇ 2404, CCAÇ 2405 e CCAÇ 2406, verifico, pela história da unidade, que todas estavam dotadas de um fur enf + três 1ºs cabos aux enf.;
  • os soldados maqueiros só existiam nas CCS.

Quanto ao Regimento do Serviço de Saúde (RSS), sabemos que foi criado em 1965,  com base no antigo Regimento de Infantaria nº 12 (RI 12), e que absorveu as missões dos então extintos 1º e 2º grupos de companhias de saúde. Estava-se em plena guerra do ultramar, e era preciso responder às crescentes necessidades de pessoal sanitário.

Durante o resto da guerra colonial o RSS aprontou e enviou para Angola, Guiné Portuguesa e Moçambique diversas unidades sanitárias, a maioria delas sendo destacamentos de inspeção de alimentos, de inspeção de águas e cirúrgicos. Também formou auxiliares de enfermagem e maqueiros.

O RSS foi extinto em 1975, deixando de existir qualquer unidade mobilizadora do Serviço de Saúde no Exército Português.

(Revisão / fixação de texto: LG)

____________________

(**) Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)

domingo, 12 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27311: Humor de caserna (215): A minha... G3trudes: uma peça em 3 atos e um final feliz (José Teixeira, CCAÇ 2381, ex-1º cabo aux enf, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá , Empada, 1968/70)


Guiné > Zona Sul > Região de Quínara > Sector S1 (Tite) > Empada > CCAÇ 2381, Os Maiorais ( Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70) > O 1º  cabo aux enf Zé Teixeira em 1969, com a sua namorada, a G3trudes, com quem irá manter uma conflituosa relação que acabará em divórcio. 

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
Humor de caserna > A minha... G3trudes: uma peça em 3 atos e um final feliz

por Zé Teixeira



"O Maioral", Zé Teixeira
(i) Encontro e namoro

Na quinzena de campo, na IAO, que antecedeu a partida para Guiné, deram-me uma companheira, a namorada que, afirmaram, me ia acompanhar durante todo o tempo em que ia estar na guerra. Se houvesse alguma infelicidade, me acompanharia até ao caixão. Era uma G3, a Gertrudes ou a G3trudes.

Disseram-me também para a tratar com carinho. Cuidar dela era cuidar de mim próprio.

Primeiro, trazê-la sempre limpa e asseada, sobretudo o cano, para que a baba, ao tentar sair, furiosa por não conseguir devido a sujidade, não rebentasse o cano. Pois, na pior das hipóteses, as tiras de aço voltavam-se para trás e atingiam o crânio do atirador, mandando-o de volta no sobretudo de madeira.

Segundo, pôr-lhe creme (óleo) nas partes mais sensíveis, para responder rapidamente aos estímulos.

Terceiro, sempre travadinha, para não fazer asneiras.

Quarto, nunca a abandonar, pois, se perdida, dava origem no mínimo, mais meio ano de comissão. O importante era chegar, sempre, ao aquartelamento com a G3trudes.

Durante os primeiros três meses, foi de facto, a minha companheira preferida e inseparável:

  • pendurada no meu ombro, ao lado da bolsa de enfermeiro;
  • deitada a meu lado à sombra de uma árvore protectora do sol e do IN;
  • ou no chão de cimento na caserna em Ingoré.

Antes da partida, prometera a mim mesmo não lhe tocar nas partes sensíveis, porque vomitavam fogo, matavam vidas e isso não fazia parte da minha missão como enfermeiro e muito menos dos meus planos. 

Cantei de alegria, quando soube que as sortes me tinham destinado a ser enfermeiro, convencido que escaparia à guerra pura e dura e que com o meu trabalho iria minimizar dores e, quem sabe, salvar vidas.

Da guerra dura e crua, não escapei, mas cumpri, apesar dos parcos conhecimentos da arte de enfermagem que me proporcionaram, a missão que me destinaram, com dedicação.

(ii) O início do fim de uma relação de amor... impossível

Ao fim de três meses de companhia dedicada, algo de grave se passou que me levou a repudiar a G3trudes para sempre.

Estávamos em plena época das chuvas. Partimos de Buba às seis da matina com destino a Aldeia Formosa,  terra até então desconhecida, onde deveríamos chegar à tarde.

A CCAÇ 1792 veio buscar-nos. Os Lenços Azuis foram, assim, testemunhas no meu batismo de fogo em aquartelamento. Mal chegámos (tínhamos ido ao seu encontro), fomos recebidos com fogo cruzado das duas margens do Rio, mas foi só o susto. Uma amostra do que nos ia esperar no futuro.

Para além de uma enorme coluna de viaturas carregadas com mantimentos, seguiam três obuses de 14 cm. Toneladas de aço a atravessar lamaçais contínuos, pontes montadas e desmontadas por nós e o IN à espreita.

Ao meio da tarde, depois de uma tempestade de... abelhas, quando tínhamos andado apenas uns três quilómetros, uma traiçoeira mina destrói a 5.ª viatura, a das transmissões, levantando uma nuvem de lama. As transmissões terminaram a sua missão.

Ficámos isolados do mundo. Aparentemente, os quatro camaradas que voaram com o sopro, ficaram apenas combalidos, mas um deles, o radiotelegrafista, projectado com o forte impacto, ao cair, ficou ferido interiormente. A morte foi-se aproximando lentamente. A vida dele caminhava para o fim devido à perda de sangue, que não podíamos controlar. Só uma evacuação urgente o salvaria. Tínhamos ficado sem comunicações.

Foram tremendamente dolorosos, para mim e para os enfermeiros das duas companhias, viver estes momentos, horas, de vida, a lutar sem armas, pela vida de um camarada que se apagava. Ele sentia que as forças lhe estavam a escapar. Nós sentíamo-nos impotentes para o salvar. Só o milagre do helicóptero, que não aparecia, porque ninguém sabia, que aquela jovem vida se estava a apagar.

   Já não vejo !    gritava. 

E depois:

  Ajudem-me a levantar   balbuciava ele, mesmo no fim, com a esperança de ainda conseguir recuperar forças e poder gritar bem alto "Safei-me!"... Mas não. Não era possível. O seu destino fora traçado, quando alguém pegou num lápis e riscou o nome dele, assinalando-o para ser mobilizado para a guerra. A guerra que ele não queria...

O sol começou a esconder-se como que envergonhado e o camarada irmão disse adeus à vida, serenamente, sem pressas, em silêncio...

Na azáfama de tratar os feridos, esqueci-me da G3trudes. Foi posta de lado, esquecida, algures. Agora, era preciso procurá-la. Onde ? Tinha-lhe perdido o lugar.

Apareceu uma abandonada junto a uma árvore. Deitei-lhe a mão. Estava safo. E segui caminho.

Uma noite sem sono, com milhares de mosquitos a perseguirem-me e o IN à espreita. Até que o Sol raiou de novo e com ele a ordem de marcha. A partida para o desconhecido. Chão que eu nunca pisara. Lama e mais lama. Mata cerrada. Grandes palmeiras que furaram a selva verdejante à procura do sol, apontavam o céu...

Não demorou muito a aparecer o IN. A coluna era demasiado longa e pesada. Lentamente lá se ia movendo à procura do destino. Deu para emboscarem a frente. Recuaram face à forma como ripostamos e voltaram a atacar a retaguarda.

(iii) Ah! G3trudes de um raio!

Deitado sobre os rodados das viaturas, com o coração a bater como nunca o tinha sentido, escutava o tiroteio que me rodeava, ao ritmo dos rebentamentos das morteiradas que me faziam vibrar violentamente os tímpanos. A G3trudes, a meu lado muito quietinha, quando senti que estava a ser incomodado diretamente. Alguém estava a querer brincar às guerrinhas comigo. As balas assobiavam muito por perto e vinham do alto. Olhei para as palmeiras e vislumbrei fogachos de luz.

A raiva contida, pela morte do camarada, veio ao de cima.

  Ah! G3trudes de um raio! Anda cá!...

Apontar, disparar e... um tremendo coice, um som seco e abafado, seguido de um ruído estranho. À minha frente jazia a G3trudes, com o cano esventrado em tiras. Uma espécie de fole, ou balão.

Fui desarmado para que pudesse cumprir o voto de não matar na guerra para onde me atiraram sem me perguntar.

Deus esteve comigo neste momento. Contrariamente ao que me disseram na instrução de armamento, o cano não abriu em leque, o que a acontecer, muito provavelmente se viria espetar no meu crânio e era a morte certa. O tapa-chamas foi o empecilho que me salvou a vida. 

  Uf! Desta já escapei.

A G3 que no dia anterior tinha encontrado abandonada pertencia ao Salvaterra Bernardes,  natural de Salvaterra de Magos. Um jovem português, deficiente motor e deficiente mental, que assassinos (não encontro nome mais apropriado)´apuraram para todo o serviço militar, fez a recruta e a especialização como atirador e veio cair na CCAÇ 2381, quando já aguardávamos embarque para a Guiné.

A arma na mão deste homem não servia para nada. Não tinha utilidade prática. Limpeza,  para quê? O cano estava cheio de areia. A bala encontrou resistência e provocou o seu rebentamento, mas estava lá o tapa-chamas.

Salvou-me a vida, impedindo o rebentamento em leque e... talvez, assim se tenha salvo a vida do IN que procurava atingir-me.

Restou apenas encolher-me e esperar que a fraca pontaria do adversário desse resultado, o que aconteceu para meu bem.

Não houve feridos de nossa parte. A coluna seguiu caminho.

(iv) O divórcio

A meio da tarde a aviação localizou-nos, o héli veio buscar os feridos do dia anterior e a vida continuou. Chegámos ao destino ao fim da tarde, ou seja vinte e quatro horas depois do previsto. 

Localizei a minha arma na mão do Salvaterra, fiz o relatório que me exigiram para abater a arma destruída e... para não mais ser tentado a fazer fogo e correr o risco de matar vidas humanas, fui entregar a minha arma ao quarteleiro, sob a ameaça do capitão que me daria uma porrada se me apanhasse sem a minha G3trudes.

Fui só e apenas enfermeiro durante o resto da comissão. Afinal era a minha missão.

Zé Teixeira

(Revisão / fixação de texto, título: LG)(**)
__________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 5 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2030: Estórias do Zé Teixeira (19): A G3ertrudes encravada que salvou duas vidas (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27300: Casos: a verdade sobre... (58): O inferno de Contabane, na noite de 22 de junho de 1968... Não consta do livro da CECA sobre a actividade operacional no ano de 1968... Felizmente temos a versão do Manuel Traquina e Carlos Nery, da CCAÇ 2382


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Contabane  (1959) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, Saltinho, Rio Corubal e Quirafo. (Nesta altura não havia Sinchã Sambel, a um escasso quilómetro do Saltinho, na margem direita do rio Corubal).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)

1. A propósito da morte recente do Suleimane Baldé (1938-2025)(*), régulo de Contabane, e antigo militar do recrutamento local que integrou as NT (primeiro como milícia e depois como 1º cabo do  Pel Caç Nat 53, 1968/74), vem-nos à memória o medonho ataque do PAIGC à sua tabanca natal: foi riscada do mapa pelos homens do 'Nino' Vieira (**). Sem dó nem piedade.  (Mas também levou  a sua conta, o 'Nino',  com vários mortos e feridos graves.)

Não sabemos onde é que o filho do régulo Sambel Baldé e da Fatumatá estava nessa noite. Não estaria lá, em Contabane.  O Zé Teixeira  diz que o conheceu (e privou com ele) na "segunda metade do ano de 1968 em Mampatá Forreá, onde ele estava colocado na Milícia local". 

Foi já depois da data do ataque a Contabane que a companhia do Zé Teixeira, a CCAÇ 2381, foi para Buba, em 18/7/1968, em reforço do BCAÇ 2834. Em 8/8/1968, por troca com a CCAÇ 2382, assume a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, com pelotões destacados em Chamarra, de 10/7/1968 a 8/2/1969. Fica então integrada no dispositivo e manobra do COSAF/COP 1 e depois do BCaç 2834.

É possível que o Suleimane pertencesse ao Pel Mil 135 / CMil 11 (que estava em Buba, com uma secção em Mampatá). E que nesse ano tenha entrado para o Pel Caç Nat 53, que veio do Xime para o Saltinho. Teria já 30 anos. Como não havia registo civil, a idade era sempre imprecisa. Com 30 anos um europeu já era velho para a tropa. Com 30 ou mais um fula ainda era um " mancebo". 

Em 22/6/1968, a CCAÇ 2832 tinham dois pelotões em Mampatá e outros dois em Contabane (mais o comando, incluindo o cap mil Carlos Nery em pessoa, o cmdt da companhia).
 
No livro da CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) (6º Volume: Aspetos da Atividade Operacional, na Guiné no período de 1967/70), só há 7 referências a Contabane e 8 à CCAÇ 2382... 

E infelizmente não há uma única  linha sobre este violentíssimo ataque, de 3 horas de duração,  com um arsenal de armas coletivas (canhão s/r, morteiro, LGFog, metralhadoras com balas tracejantes e incendiárias) à tabanca e destacamento de Contabane...  (felizmente tinha um perímetro de arame farpado e alguns abrigos mais ou menos improvisados).

A povoação ficou reduzida a cinzas e os nossos camaradas perderem praticamente todos os seus haveres, víveres e até equipamentos.  O destacamento será abandonado. A tabanca seria mais tarde reconstruída, no Saltinho, na margem direita do rio Corubal, com a ajuda fundamental da CCAÇ 2701. Passou a designar-se Sinchâ Sambel, em homenagem ao pai do Suleimane Baldé.

O brigadeiro António Spínola tinha acabado de chegar ao CTIG, em 24 de maio de 1968.  Onde meses depois, em 14 de abril de 1969, durante o "briefing" que fez  por ocasião da visita à Guiné do Presidente do Conselho, Marcello Caetano, acompanhado pelos Ministro do Ultramar, Secretário de Estado da Informação e Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, disse  (deixando um recado bem claro ao poder político):

(...) "Dentro da política realista de estrita economia de meios, e perante a não satisfação, em tempo oportuno, dos meios de combate e de apoio solicitados em novembro (de 1968, e então considerados pelo SGDN  (Secretariado Geral da Defesa Nacional) de urgência imediata, e respeitando o princípio da concentração de meios nas zonas de esforço - princípio básico da manobra militar - tivemos que desmilitarizar algumas áreas do Leste e do Sul da província.

À luz deste condicionalismo, foram desmilitarizados os seguintes pontos: 

  • Banjara, 
  • Beli, Madina do Boé, 
  • Ché Che
  • Contabane, 
  • Colibuia, 
  • Cumbijã, 
  • Ponte Baiana, 
  • Gandembel, 
  • Mejo, Sangonhá, 
  • Cacoca, Cachil, 
  • Ganjola 
  • e Gubia." (CECA, 2015, pág. 401)"

Há muito que se sabia   do crescente incremento da actividade lN na região de Forreá-Contabane.  


2. Claro que esta omissão (a referência ao ataque a Contabane) não tem nada a ver com o "branqueamento" desta situação (que foi, de facto, um revés para as NT), mas resulta, sim, em grande parte, da insuficiência de fontes de consulta, bem como da metodologia seguida pelo grupo de trabalho.

O segundo livro dos "Aspectos da Actividade Operacional - Guiné" abrange o período de  de 1967 a 1970 (4 anos).

(...) "Tal como se referiu na primeira obra são completamentares os livros editados pela Comissão para os Estudos das Campanhas de África: 1° volume - 'Enquadramento Geral'; 7° volume - Tomo II Guiné - 'Fichas das Unidades'; 'Subsídio para o estudo da doutrina aplicada nas Campanhas de África', no respeitante à logística no Teatro de Operações da Guiné.

O trabalho foi conduzido pela recolha de uma compilação de elementos, resumo e extractos alicerçados em documentos oficiais como directivas, ordens, planos, normas de execução permanente e diversos relatórios de comando, pessoal, informações, operações e logística. 

As matérias que são referidas, eram na maioria, no respeitante à segurança, classificadas, exigindo a aplicação de medidas de segurança que recebiam consoante os inconvenientes que podiam causar a sua divulgação em graus que iam desde o reservado, confidencial e secreto até muito secreto. 

Posteriormente foi proposta e autorizada a desclassificação dos documentos pelo que não são agora mencionados os graus que lhes tinham sido atribuídos à época.

Circunscrevemo-nos à consulta dos documentos produzidos à data na Metrópole e aos que na altura foram efectivados e encaminhados para Portugal Continental. Os que foram elaborados e arquivados nos CCFAG e CTIG, embora tenham sido enviados de lá e armazenados no extinto BCaç nº 5, acabaram por ser destruídos num incêndio. Devido a este, não se pode lucrar com o conhecimento dos seus conteúdos.

As fontes de consulta ficaram limitadas aos arquivos dos SGDN, ARM, CECA e do testemunho de alguns militares. [Gralha: a sigla ARM deve ser AHM - Arquivo Histórico Militar; ARM não vem na lista das abreviaturas do referido livro da CECA]

Sobre as operações e acções tácticas executadas no TO da Guiné são mencionadas as ajuizadas como mais relevantes.

Sendo este trabalho sobre a actividade operacional é nossa intenção destacar, também, o esforço apreciável dos militares no apoio à população na sua defesa, educação, saúde, contrução de aldeamentos e vias de comunicação.

Prestamos homenagem aos Oficiais, Sargentos e Praças, que combateram até ao risco da própria vida, com muita dignidade e valor e cumpriram múltiplas e difíceis missões em prol da população.
Consideramos que a actuação dos militares na Campanha da Guiné, merecidamente, deve constituir um exemplo." (CECA. 2105, pág. 7).

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), 607 pp.

(Pesquisa, revisão / fixação de texto, negritos LG) (***)
__________________

Nota do editor LG:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27299: In Memoriam (559): Suleimane Baldé (1938-2025), régulo de Contabane, ex-1º cabo do Pel Caç Nat 53 (1968-1974), filho do régulo Sambel Baldé e de Fatumatá; fica inumado, simbolicamente, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 908


27 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25690: 20º aniversário do nosso blogue (16): Alguns dos melhores postes de sempre (XII): na noite de 22 de junho de 1968, há 56 anos, Contabane transformou-se no inferno - Parte II: a versão de Carlos Nery, na história da unidade (pp. 10,11,12 e 13)

(***) Último poste da série > 5 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27287: Casos: a verdade sobre... (57): a emboscada de 1 de outubro de 1971, em Bangacia (Duas Fontes), Galomaro, Sector L5, ao tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares / J. F. Santos Ribeiro / Vasco Joaquim / Paulo Santiago)

Guiné 61/74 - P27299: In Memoriam (559): Suleimane Baldé (1938-2025), régulo de Contabane, ex-1º cabo do Pel Caç Nat 53 (1968-1974), filho do régulo Sambel Baldé e de Fatumatá; fica inumado, simbolicamente, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 908


Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > Sinchã Sambel > 2015 : O Zé Teixeira e o Suleimane Baldé (1938-2015), régulo de Contabane...É a foto mais recente que temos dele. Os dois conheceram-se em Mampatá, em 1968

Foto (e legenda): © José Teixeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sinchã Sambel (antiga Contabane) > 3 março de 2008 > O Suleimane Baldé, régulo de Contabane, à direita o Pedro Lauret, e à esquerda o Paulo Santiago, seu antigo comandante, quando ele era, em 1970/72, 1º cabo do Pel Caç Nat 53. Foto tirada por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008)

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > s/d > O Suleimane Baldé, ao centro, à sua direita, o Paulo Santiago, à direita o Mário Miguéis da Silva (que conheceu o Suleimane no Saltinho, em 1970) e de perfil o Zé Teixeira.

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Paulo Santiago (ex-alf mil, cmdt, Pel Caç
Nat 53, Saltinho, 1970/72)

Paulo Santiago


Data - 8 out 2025 11:38

Assunto - In memoriam: Suleimane Baldé

Soube há pouco, por telefonema do Zé Teixeira, da morte súbita, ontem, do Suleimane Baldé, antigo 1º cabo do Pel Caç Nat 53 que comandei entre out/70 e ago/72.

O Suleimane, filho do Sambel Baldé e da Fatumatá (morreu aos 100, em 2010),  herdou do pai o regulado de Contabane. 

Em outubro de 1970 eu era um puto ao lado do Suleimane, dez anos era a diferença entre os meus 22 e os dele 32. Fomos bons camaradas.

Ficou algumas vezes em minha casa, quando de vindas a Portugal. 

A foto em anexo  foi tirada numa dessas vezes. Aconteceu na Tabanca de Matosinhos, na imagem Mário Miguéis, que conheceu o Suleimane no Saltinho, e de perfil o Zé Teixeira.

Descansa em paz, camarada Suleimane.

PS - O Suleimane Baldé foi, de facto, também  milícia, antes de ingressar no Pel Caç Nat  53. Esclareça-se, por outro lado, que os moradores de Contabane não  foram dispersos por Aldeia Formosa e Mampatá, A grande maioria,foi "instalada" junto da picada que seguia para o Xitole a cerca de 1 km do quartel do Saltinho, Foram estes antigos moradores da destruída Contabane que ajudaram militares da CCaç 2701 na construção da actual Sinchã Sambel, onde vivi os meus últimos meses de comissão.

Já no século XXI, eu e o antigo cap Carlos Clemente, hoje coronel na situação de reforma, fomos ouvidos, várias vezes, acerca de um ferimento sofrido,  junto a um ouvido, pelo 1º cabo Suleimane Baldé e que lhe provocava  perda de audição. Foi uma situação complicada. Uma operação irregular, sem relatórios escritos, com o grupo do Marcelino da Mata. Mais por declarações do Clemente,do que minhas, foi atribuída uma pensão ao Suleimane.
 

Zé Teixeira

2. Mensagem  do José Teixeira (ex- 1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70):

SULEIMANE BALDÉ, UM AMIGO QUE PARTIU PARA O ETERNO AQUARTELAMENTO. (*)

Tive o prazer de conviver com o Sulimane (como eu o tratava), na segunda metade do ano de 1968 em Mampatá Forreá, onde ele estava colocado na Milícia local. 

Suponho que já estava casado com a Naná, filha do régulo, o alferes de segunda linha Aliu Baldé, de quem guardo as melhores recordações, bem como dos seus filhos e de toda a gente com quem convivi. 

Nessa altura, não sabia que ele era filho do régulo Sambel de Contabane, a viver em Aldeia Formosa (Quebo)  depois da tabanca onde vivia (Contabane) ter sido atacada e  queimada, no dia 22 de junho desse ano.(**)

Quando em 2005 voltei à Guiné, encontrei-o na tabanca de Sinchã Sambel, no Saltinho – tabanca, onde o seu pai se fixou e com ele a sede do regulado de Contabane, agora nas mãos do Sulimane. 

Foi a esposa, a Naná,  que me reconheceu e me fez recordar, os tempos passados em Mampatá, trinta e cinco anos antes, uma surpresa profundamente agradável para quem regressava à Guiné, agora como voluntário para reviver os tempos, os bons e os menos bons, de outrora.

Foi um prazer grato voltar e encontrar o casal e solidificar a amizade que nos unia desde a minha estadia em Mampatá.

Voltei à Guiné várias vezes, com paragem obrigatória por Sinchã Sambel para conviver com o Sulimane e família. 

Levei a sua casa os meus filhos e a minha esposa, os camaradas e amigos que me acompanhavam nas visitas à Guiné. Fui sempre recebido como um filho, pelo Sulimane e pela Naná, também falecida há alguns meses atrás.

O Paulo Salgado, seu conhecido e amigo de outras andanças pela Guiné, quando o Sulimane era seu 1º cabo no Pel Caç Nat 53,  no Saltinho, trouxe-o à tabanca de Matosinhos. Tive a oportunidade de várias vezes o ir visitar a Lisboa, quando ele vinha cá, sobretudo por causa das doenças que o apoquentavam, o mesmo acontecia quando a Naná estava em Lisboa.

Escrever sobre o Sulimane é falar de um homem íntegro, um grande líder étnico, um guineense que também era um português de alma e coração. Um homem simples, cordato, conversador e firme nos seus ideais. Um gigante, que muito me ensinou nos diversos encontros que tivemos.

Faleceu no  passado dia 7, com oitenta e sete anos.

Com a sua morte, fiquei mais pobre.
Fica em paz, querido amigo.

Junto fotos nos nossos encontros.

Zé Teixeira

(Fonte: página do facebook do José Teixeira, 8 de outubro de 2025, 23:22)


3. Comentário do editor LG:

O Suleimane Baldé era 1º cabo do Pel Caç Nat 53, ao tempo do Paulo Santiago, seu comandandente no época de 1970/72. Era DFA (com 30% de incapacidade, por estilhaço num ouvido, resultante de uma nina A/P. Fez operações "irregulares" para lá da fronteira com o grupo do Marcelino da Mata. Herdou de seu pai o regulado de Contabe. A sua tabanca, Contabane, foi riscada do mapa pelo PAIGC, em 22 de junho de  1968. (**)

Veio a Portugal várias vezes. Manteve sempre fortes laços afetivos aos "tugas" (em especial ao José Teixeira, ao Paulo Santiago, Mário Miguéis da Silva). Por todas as razões, e sendo um dos valorosos camaradas da Guiné, passa a ser inumado, simbolicamente, sob o poilão da Tabanca Grande, no lugar nº 908. Tem várias referências no nosso blogue.

As fotos  que publicamos são elequoentes: tanto o Zé Teixeira como o Paulo Santiago sempre tiveram um especial carinho por este nosso camarada e sua família.

São dois "tugas" com uma enorme sensibilidade sociocultural, e capacidade de empatia,  que honram a Tabanca Grande:  um e outro conheceram a senhora Fatumatá, ainda em vida, o Paulo Santiago (ex-alf mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, que voltou à Guiné em 2005, 2008 e 2010), e o José Teixeira (ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), que foi à Guiné-Bissau ainda mais vezes (pelo menos, 2005, 2007, 2008, 2013, 2015, se não erro)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Sinchã Sambel >  2005 > A mulher do régulo local, a que está a ordenhar a vaca, casada com o régulo de Sinchã Sambel,  Suleimane Baldé, antigo 1º cabo do Pel Caç Nat 53, filho do antigo régulo de Contabane, Sambel Baldé. 

Depois da evacuação de Contabane, em a população dispersou-se por Mampatá e Aldeia Formosa. Mais tarde,foi reunida numa nova tabanca, junto ao Saltinho, Sinchã Sambel, em homenagem ao régulo, que foi sempre leal aos portugueses (era um firme alidado de Spínola).

Foto (e legenda): ©  José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Contabane > Sinchã Sambel > 3 março de 2008 > "Eu, o Pedro Lauret com o régulo Suleimane Baldé, régulo de Contabane, e outros habitantes da tabanca"

Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Sinchã Sambel > 2005 > "Fatumatá, esposa do régulo Sambel de Contabane.T
irei-lhe esta foto  em 2005 quando ela tinha 96 anos, segundo me disse a Meta Baldé (Naná), esposa do Suleimane Baldé, o filho e atual régulo.   À data estava perfeitamente lúcida. A imagem que me ficou dela foi o seu abraço prolongado enquanto me dizia com emoção 'Branco e na volta, Branco e na volta'.  Quando faleceu em 2010,  tinha efetivamente 100 anos. 


Foto (e legenda): ©  José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Sambel > 2005 > Fota da dona Fatumatá, viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, aliado de Spínola... Era já viúva, quando morreu, em 2010 ("com 114 luas, dizem uns, ou 100 anos, dizem outros".  


Foto (e legenda): ©  Paulo Santiago  (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Sambel > 2013 >   Zé Teixeira, Naná, Maria Armanda e Suleimane Baldé



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Sambel > 2013 >  
A famíla Baldé e a família Teixeira  



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Sambel > 2015 >  O "Sulimane", como lhe chamava o Zé Teixeira. Dois velhos amigos e camaradas.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Sambel > 2015 >  O " Sulimane" com o seu filho Alfa e o Zé Teixeira, vendo-se dntro da morança o Eduardo Moutinho Santos.

Fotos (e legenda): ©  José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor LG:


Recorde-se o contexto (LG):

Face à pressão IN sobre a região do Forreá, a CCAÇ 2382 (que chegara ao CTIG em 6mai68, e estava a fazer a IAO em Bula), é colocada em 7jun68, à pressa, no Sector S2 (Aldeia Formosa), com dois pelotões em Contabane, no Forreá. Veio render forças da 5ª CCmds.

Em 11jun68, instala-se o o comando e os outros dois pelotões em Mampatá; no entanto, em 18jun68, a sede da subunidade passou para Contabane, ficando apenas um pelotão destacado em Mampatá.

Na noite de 22jun68, Contabane sofre um ataque de 3 horas e fica praticamente reduzida cinzas.

O régulo era o Sambel, e a "mulher grande" do régulo, uma grande senhora, a Fatumatá, pais do Suleimane Baldé (1935-2025).

Em 1jul68, Contabane, é evacuada, a CCAÇ 2382 volta de novo a instalar-se em Mampatá, agora com dois pelotões destacados em Buba e Patê Embalá. Será construído um reordenamento, no Saltinho, Sinchã Sambel, para alojar as famílias da antiga Contabane.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27160: Humor de caserna (211): a Maria-tira-cabaço, uma história pícara de Empada... (José Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos)


Guiné > Ingoré > 1968 > O 1º cabo aux enf José Teixeira, da CCAÇ 2831 (1968/70), posando em cima de uma autrometralhadora Daimler, no início da sua comissão que o levaria do Cacheu (Ingoré) até ao Sul, às regiões de Quínara (Buba, Empada) e Tombali (Quebo, Mampatá, Chamarra). A Daimler tinha nome de guerra: Massiel... a fogosa cantora espanhola que vencera, em 1968, o Festival Eurovisão da Canção, interpretando a canção "La, la, la". (Lembram-se ? "Todo en la vida es como una canción / Te cantan cuando naces / Y también en el adiós"... La, la, la".)


Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




Zé Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos; foi noutra incarnação
1º cabo aux enf, CCAÇ CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)



1. Já sabíamos que o nosso veteraníssimo Zé Teixeira (um histórico da Tabanca Grande, régulo da Tabanca de Matosinhos) era um excelente contador de histórias, incluindo histórias pícaras...

Ele tem uma ligação umbilical à Guiné e à sua gente. Por favor, vejam este delicioso microconto como um ato de ternura... em tempo de guerra.

Também sabemos que o exército, no nosso tempo, era púdico e forreta, nem camisinhas de Vénus distribuía ao pessoal... E muito menos Vénus em carne e osso... (Mas a verdade é que a Vénus acompanha todos os exércitos do mundo desde que a Eva e o Adão foram expulsos do paraíso  e depois que o Caim matou Abel.)

Em contrapartida, sempre nos ensinaram, desde a recruta, que a tropa manda...desenrascar! Em Ingoré, em Aldeia Formosa, em Mampatá, em Empada, etc., era isso o que acontecia...

Se a Massiel não vinha à Guiné, a malta tinha uma varinha de condão e transformava um bocado de lata (uma Daimler da II Guerra Mundial) num fetiche: "erotizava-se" a viatura... A "Massiel" ajudava a "climatizar os pesadelos" da rapaziada... Aliás, a G3 era a nossa "namorada"...

Já as Marias de Empada (e havia-las um pouco por todo o lado), que nunca poderiam vencer nenhum festival da Eurovisão, essas, souberam tirar partido da situação de guerra e da economia de guerra. Puseram um anúncio na morança: "Maria tira cabaço di tuga"... E, ao que parece, não faltava procura!

Um comércio pouco honesto, perguntarão alguns ? Tão ou mais do que a guerra!, responderão outros... Claro que era ilegal... Mas a polícia de costumes assobiava para o lado. E a cama das Marias de Empada estava sempre quente!

Não sabemos o que lhes aconteceu, às Marias de Empada, a seguir à independência, mas é muito provável que tenham sido acusadas de "colaboracionismo" pelos novos senhores da guerra... "Partir catota com os tugas" era um ato contrarrevolucionário aos olhos dos "libertadores" como o 'Nino' Vieira...

Enfim, a cada um a sua moral... e a sua polícia de costumes!



Humor de caserna > A Maria tira cabaço di brancu


por Zé Teixeira 



Quando chegamos a Empada, lá aparece a Maria, mais a irmã, a dar-nos as boas vindas. Rapidamente se soube da sua arte e mestria em tirar cabaço a branco e satisfazer as necessidades a quem já sabia da poda, para desgraça da nossa jorna, já de si tão pequena e que se esvaía na cerveja e agora tínhamos a Maria.

Um alferes, a quem não foi contada a história da pequena, tenta o engate e, zás!, arranjou namorada que até ia ao quartel, durante o dia, prestando-se para todo o serviço. 

Ninguém lhe podia tocar, era a namorada do alferes, durante o dia, mas, à noite, zumba que zumba com toda a gente que tivesse uns patacõezitos para gastar. Até faziam fila e a irmã dava uma ajuda.

Houve cenas engraçadas com a Maria-tira-cabaço. Um camarada e amigo,  encabaçado, tinha vontade e.… inexperiência, vergonha, medo, falta de jeito, etc. Então foi meter uma cunha a outro companheiro para pedir à Maria para o atender bem. Este foi, meteu a cunha e gozou... de borla. O outro pagou a dobrar, isso de tirar cabaço a branco tinha de ser bem pago!

Tanto quanto pude apreciar até o 'Nino' sabia da sua vida, pois num célebre ataque ao cair da noite, as primeiras canhoadas foram para a casa da Maria, só que os brancos que lá estavam eram velhinhos e voaram ao sentirem o som das saídas do canhão.

O pobre do alferes é que, quando soube, rebentou de raiva. E foi uns dias depois, quando foi à sua procura na morança, um dia ao fim da tarde (talvez a fosse convidar para jantar): encontrou o lugar ocupado e gente à espera..
.

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor LG:

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27135: Humor de caserna (210): Fugir com o cu (ou melhor, com o pé) à seringa (José Teixeira, "fermero", que "firma"na Tabanca de Matosinhos)

1. Mais uma história. bem humorada, do nosso "fermero"  Zé Teixeira (que hoje "firma" na Tabanca de Matosinhos, mas que noutra incarnação foi 1º cabo aux enf, 
CCAÇ CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)...

Estamos em agosto de 2025... Um mês que há muito deixou de ser  "o nosso querido mês de agosto": é cada vez mais trágico, com a banalização dos incêndios, da morte e da devastação do interior do nosso Portugal...

O Zé Teixeira, que apesar de tudo não se deixa abater com o desolador espetáculo que o mundo à volta nos oferece, mandou-nos, para animar o blogue,  mais uma das suas histórias pícaras. Agora reeditadas (*).


Humor de caserna (21o) > O balanta que fugiu com o cu (o melhor, com o pé) à seringa



Em Mampatá Forreá (na região de Quínara, entre Buba e Aldeia Formosa), os dois únicos balantas que lá conheci (a população era Fula, Futa-fula e Mandinga) eram lenhadores, contratados pela tropa a troco de uma marmita de comida diária para cortarem lenha para a cozinha militar.

Um deles tinha tanta força como de ingenuidade. Um dia peguei numa faca e disse-lhe que o ia matar. Desatou a correr e eu atrás dele, a rir-me às gargalhadas, correndo os dois a tabanca toda.

Ninguém sabia o que se passava nem entendia porque quando eu parava, atrás de uma morança, ele parava e, se eu começasse a correr, ele fugia por entre as moranças, a rir-se, mas sempre longe de mim. 

Enfim, um bom espectáculo para um fim de tarde de alguém  que, como eu,  apenas precisava de queimar o tempo (e ainda faltava tanto!)...

Só parámos, quando deitei a faca ao chão. Depois demos um abraço e   fizemos as pazes. 

Certo dia acertou com o machado num pé. cortando profundamente um dedo. Por pouco não traçava o osso por inteiro.

Dirigiu-se à enfermaria, ao ar livre, isto é, ao cantinho onde todos os dias eu montava o meu engenho de enfermaria.

O meu dilema era completar a obra do machado e sacar o dedo ou tentar suturá-lo, na esperança de o osso solidificar. Ou, então, aguardar dois dias pela avioneta do correio e mandar o "embrulho" para Bissau.

Optei pela sutura, lavei muito bem o pé  (que talvez nunca tivesse sido lavado na vida...) , e preparei a seringa para a anestesia local. Ele baixa a amostra de calções mais negros que a sua pele, convencido que ia tomar uma injecção. Quando se apercebe que ia ser picado no pé, começa a gesticular que não. 

No pé, é que não!!!... 

Claro que eu não sabia balanta, e ele não sabia crioulo, nem português. Assim não nos entendíamos, mas ele encontrou a solução: desata a correr pela aldeia fora com o dedo dependurado e a sangrar. 

Pica no pé, nunca, só no traseiro!!!...

Passado algum tempo lá voltou. Com a ajuda do companheiro, conseguimos entendermo-nos melhor. Fiz de novo a higienização da ferida, suturei como pude e,  passados uns dias, com a ajuda de umas picas de penicilina lá se curou e voltou ao trabalho de lenhad
or para ter direito a comer (os nossos restos).

José Teixeira

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série : 4 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27086: Humor de caserna (209): um "fermero" que em Empada ganhou fama de curandeiro, milagreiro e... abortadeiro (Zé Teixeira, Matosinhos)

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27086: Humor de caserna (209): um "fermero" que em Empada ganhou fama de curandeiro, milagreiro e... abortadeiro (Zé Teixeira, Matosinhos)



1. Para animar o nosso querido (mas fugaz) mês de agosto de 2025, o Zé Teixeira mandou-nos algumas das suas histórias picarescas e brejeiras.  Ficam bem na série "Humor de caserna" (*).

Recorde-se que o José Teixeira 

(i) é régulo da Tabanca de Matosinhos;

(ii) ex-1.º cabo aux enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; 

(iii) é um histórico da Tabanca Grande, que integrou a partir de 14/12/2005; 

(iv) tem c. quatro centenas e meia de referências no blogue; 

(v) vive em São Mamede de Infesta, Matosinhos; 

(vi) é gerente bancário reformado; 

(viii) escritor, poeta, contista, além de escutista...


A brincar, a brincar, o Zé Teixeira, que conhecia bem a população a quem prestava cuidados de enfermagem, levanta aqui neste microconto (com o título original, "As vitaminas abortivas") algumas questões sensíveis como a promiscuidade sexual, a violência sobre as mulheres (no seio da família patriarcal), a saúde reprodutiva,  a interrupção da gravidez, o acesso aos cuidados de saúde etc.,  nas regiões de Quínara e de Tombali, em plena guerra colonial.



Humor de caserna (209) >  Um "fermero" que em Empada ganhou fama de curandeiro,  milagreiro e... abortadeiro!

por Zé Teixeira
 


Em Empada uma das coisas mais gostosas que a tropa gostava de fazer era ir até à Fonte Frondosa  apreciar as bajudas no banho... 

À falta de melhor e com um bocadinho de sorte aparecia uma ou outra que vestia apenas o fato que a mãe lhe tinha dado ao nascer. Para alguns camaradas virgens aquilo era sopa da boa.

A Fátma, mais uma das muitas Fátmas que conheci na Guiné, abeirou-se de mim:

 
 Fermero, parte quinino pra matá minino que na tem na bariga !

 − Como ?

− Minha tio brinca e faz minino na bariga di mim. Tem pacensa, parte quinino !

− Quinino ká tem, vai na mudjer grandi, ele trata di ti.

− Nega mesmo, mudjer grandi ká na tem quinino. Tu tem quinino.

− Olha, vou pensar nisso, passa amanhã pela enfermaria.

− Tem de ser hodje. Parte quinino.

Seguiu-me até à enfermaria e eu, sem saber o que fazer para afastar a chata, que ainda por cima era daquelas poucas feias que por lá apareciam e de quem todos nós nos afastávamos.

Bem, para grandes males grandes remédios. Se estava grávida, nada como lhe dar uns comprimidos de vitaminas. Mal não faziam. Talvez o milagre se desse...

Quinze dias depois, lá fui eu até à fonte passar um pouco de tempo e treinar uns apalpos, nem sempre bem sucedidos, quando a Fátma aparece. 

− Estou tramado, aí vem a chata…

Qual quê !, ao ver-me, desata a correr para mim, toda contente.

− Fermero, minino na vai. “Coisa” (#) na tchega mesmo. Tu, bom pessoal.

Ganhei mais uma amiga e juntei à fama de curandeiro e milagreiro, mais uma: a de... abortadeiro!

Zé Teixeira

30 de julho de 2025

(#) Menstruação

sábado, 2 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27081: Felizmente ainda há verão em 2025 (6): Drave, na serra da Freita, Arouca... "O despertar da natureza" (José Teixeira)




Arouca > Serra da Freita > Drave, "aldeia mágica > Foto de Luís Pinto, com a devida vénia... Fonte: Visit Arouca


1. Mensagem do Zé Teixeira (régulo da Tabanca de Matosinmhos, ex-1.º cabo aux enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; é um histórico da Tabanca Grande, que integrou a partir de 14/12/2005; tem c. quatrro centenas e meia de referências no blogue; vive em São Mamede de Infesta, Matosinhos; é gerente bancário reformado; escritor, poeta, escutista)...

Data - 1 agosto 21:52  

Assunto - Tempo de estar presente

Meus queridos amigos

Paz, saúde e bem-estar.

Chegou o tempo de férias, para aqueles não estão em férias todo o ano e para esses também.

Mudar de ares sabe sempre bem.

Um abraço do tamanho do Geba para a equipa em especial e para todos os camaradas bloguistas que ainda resistem.

Convido-vos a dar um passeio comigo pela Natureza na aldeia mágica da Drave em plena Serra da Freita - Arouca. 

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O despertar da Natureza

por José Teixeira


 Acordo ao som da água cristalina,

Que se esgueira de rocha em rocha na ribeira

E desliza, toda lampeira, pela colina.

 

As folhas das árvores de casca carcomida

Murmuram os bons-dias ao vento, que passa em corrida,

Num divertido rodopio,

Transportando com ele um brando ar frio.

 

Espreito por uma frincha da tenda que me abriga,

E vislumbro os primeiros estiletes do sol doirado,

A mergulhar nos picos da montanha, minha amiga.

 

Ao longe, os primeiros gorjeios dos passarinhos,

A acordar, lá no alto, lentamente,

Ainda dentro dos seus ninhos.

E continuando a sua leda marcha, em direção ao poente,

O sol lança brandamente os seus raios pela ladeira.

 

Bate à porta de cada ninho, com o seu calor,

E incita, nos passarinhos, aquela soalheira,

O bel-prazer de louvar o Divino Criador!

 

Forma-se, assim, uma melodiosa orquestra,

Com os mais variados sons e tons,

Enriquecida em cada centímetro de verdura,

Franqueada pelos raios solares com muita ternura.

 

Peneireiros, chascos, rouxinóis, carriças e verdilhões,

Pardais, piscos, pintassilgos, chapins ou tentilhões,

Qual deles o mais sonoro!

 

E quando chega ao fundo da planura, suavemente,

O sol acorda, num repente, os melros dorminhões,

Que enriquecem a harmonia do espaço envolvente,

Com o seu trinar peculiar, que encanta toda a gente.

 

Que divinal momento!

Que singular beleza!...

Oh! Como é bom sentir o despertar da Natureza.

                                                           

José Teixeira


2. Comentário do editor LG:

Zé, obrigado. É tempo de estar presente. E tu estás sempre presente. És um histórico da nossa Tabanca Grande. E tens uma particular sensibilidade sociocultural. Além disso, és poeta. 

O teu poema, inspirado na Serra da Freita, fica muito bem nesta série, "Felizmente ainda há verão em 2025" (*).

É tempo também de falar do Portugal Profundo, que só é falado quase sempre por más razões como a tragédia dos incêndios de verão.  Drave, na serra da Freita, Arouca, espero, ao menos, que tenha sido poupada ao  incêndio que, mais uma vez, se abateu sobre Arouca. 

Já passei pela serra da Freita, e pela aldeia de Drave, há uns largos anos.  Afinal, estou do outro lado do rio Douro, frente à serra de Montemuro, mas Candoz já fica no distrito do Porto. E já fiz o passadiço do rio Paiva ainda antes da pandemia. 

Fico com "inveja" de não poder estar aí contigo que, sendo, escuteiro. conheces bem Drave e a zona.

Numa consukta à Net, e ao sítio "Visit Arouca", fico a saber sobre Drave mais o seguinte:

(...) Desabitada desde 2009, algumas casas têm sido intervencionadas pelo Centro Escutista, já que Drave é a Base Nacional da IV Secção do Corpo Nacional de Escutas.

Drave é sublime, com os seus miradouros criados pela própria natureza. Atravessando a ponte, encontramo-nos nas ruelas estreitas entre as casas, que apetece calcorrear. 

No meio das ruínas de xisto e lousa, sobressai, branquinha, a Capela de Nossa Senhora da Saúde e o Solar dos Martins, atualmente convertido em quartel-general da IV Secção do Corpo Nacional de Escutas. 

Mais ao fundo, escutamos o barulho das águas puras da ribeira de Palhais, ouvimos o som das cascatas e apreciamos as piscinas naturais. (...)

Recorde-se, por outro lado, os 17 arouquenses que morreram na guerra coloniual / guerra do ultramar, num total de cerca de 3 mil militares mobilizados neste oncelho do distrito de Viseu,  que em 1970 tinha 23,8 mil habitantes.  Dos mortos, 7 pelo menos foram na Guiné, 6 em Moçambique e 3 em Angola (n=16).
 
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Nota do editor:

(*) ), Último poste da série > 1 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27076: Felizmente ainda há verão em 2025 (5): afinal, Vila do Conde é um dos pontos-chave do Caminho Português da Costa que leva a "pelingrina" italiana a Santiago... (Virgílio Teixeira)

Vd. postes anteriores:

31 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...

30 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

29 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27067: Felizmente ainda há verão em 2025 (2): E na próxima segunda-feira, dia 4 de agosto, às 19h30, os mordomos da Festa do Emigrante na Ventosa do Mar, Lourinhã, vão armar a "manjedouro do povo" para a monumental batatada de peixe seco!... Sigamos a "arraia", que o cherne está pela hora da morte!